Confira outros tópicos da entrevista coletiva de Fernando Diniz após Vasco 1 x 2 Corinthians
— Antes de falar do jogo, quero falar da tristeza que a gente sente por não ter contemplado todo mundo com a vitória, o título, principalmente a torcida. É muita dor que estamos sentindo, que eu, de maneira especial, tô sentindo. Jogamos para ser campeões. Time tentou, lutou.
Na opinião de Diniz, a partida no Maracanã foi definida por um descuido de marcação no meio-campo. No início da jogada do gol de Memphis Depay, o segundo dos paulistas, Puma Rodríguez tentou um drible e foi desarmado por Martínez. Depois, Breno Bidon driblou Barros, que deu bote precipitado.
— No primeiro tempo, foi um jogo um pouco mais equilibrado, tivemos controle da situação. No segundo tempo, quando voltamos bem melhores que o Corinthians, em que estávamos muito mais próximos de fazer o gol do que de tomar, tivemos um descuido de marcação. A bola que era nossa, perdemos. Podíamos ter roubado a bola, feito a falta. Não fizemos e acabamos tomando o segundo gol. O time foi muito valente, insistiu muito — disse Diniz, acrescentando:
— Tirando o placar final do jogo, por qualquer olhar que você queira analisar a partida, fomos superiores ao Corinthians. Tanto no primeiro jogo em Itaquera, como no jogo de hoje. Tivemos o triplo de finalizações, 44 entradas no último terço e eles entraram nove no nosso. Números de escanteio, finalizações, posse. Infelizmente, não conseguimos fazer o gol que ao menos levava para os pênaltis. Fica um sabor de tristeza pela não conquista do título. Ao mesmo tempo, um sinal positivo de que o time lutou e, para mim, representou bem a camisa do Vasco.
No jogo de ida da decisão, Vasco e Corinthians empataram sem gols na Neo Química Arena. Neste domingo, Yuri Alberto abriu o placar no Maracanã, mas o Vasco deixou tudo igual com gol de Nuno Moreira. No segundo tempo, no entanto, Memphis Depay recolocou o Corinthians em vantagem e selou o tetracampeonato dos paulistas na Copa do Brasil.
Outros tópicos da coletiva de Fernando Diniz:
- Autoavaliação para corrigir os erros:
— A gente vai fazer uma análise e um balanço geral de tudo que aconteceu na temporada. Vamos ter um pouco de tempo para avaliar. Vou repetir o que disse, que as pessoas às vezes pegam falas soltas para deturpar. Esse Vasco que eu dirijo está aprendendo a ser grande. Hoje foi mais um passo. Jogou como um time grande, do tamanho do Vasco, mas não conseguiu levantar o título. Mas o time, em condições normais, se joga como jogou hoje, na maioria das vezes vai ganhar. Ao longo desse processo o time foi ganhando estima, aprendendo a valorizar a camisa do Vasco e entregar coisas positivas para a torcida. Teve momentos brilhantes, momentos ruins nessa minha passagem aqui. Na temporada que vem acredito que a consistência seja uma meta a buscar. Ser um time que joga em nível alto constantemente para fazer uma temporada melhor que essa que terminamos hoje.
- O que dá para tirar de proveito da derrota para a próxima temporada?
— Se tem uma coisa que derrotas como essa fazem é trazer uma dor grande e pessoas que querem crescer acabam melhorando mais rápido. Obviamente que erramos em detalhes. Sempre erramos… Erramos contra o Fluminense (semifinal), erramos no jogo de Itaquera, mas hoje eles aproveitaram nossos erros. A gente errou pouco, mas o pouco que erramos eles foram efetivos e marcaram. Hoje talvez teve um pouco de nervosismo de um jogador ou outro, porque era inédito jogar uma final. A experiência é algo intransferível, você tem que passar. Foi um dia de muita dor e aprendizado. Eu errei pouco, mas não precisava ter errado. Mesmo a gente corrigindo, o futebol é uma coisa incerta como a vida. Não vou garantir título. Se tivesse um time para ganhar pelo o que produziu era o Vasco, não o Corinthians.
- Aplausos da torcida no fim:
— Acho que isso é um sinal que a torcida reconhece. Tem uma tristeza… acho que a torcida e o time nesses jogos decisivos da Copa do Brasil tiveram uma conexão importante. No sentido de que torcida e time estão sentindo a mesma coisa. Uma tristeza e ao mesmo tempo uma coisa positiva de ter lutado. Futebol não é uma ciência. O jogo de hoje o time que finaliza 16 vezes e o outro seis, quase o triplo, que fica 64% de posse de bola, invade o terço final do campo 44 vezes contra nove, o normal é sair vencedor. Lá em Itaquera já era para termos saído com a vitória, como nos dois jogos do Fluminense também. Esse final de temporada acho que dá um alento para a torcida. Vacilamos em alguns momentos e merecemos ser criticados, mas tivemos momentos brilhantes. Uma vitória super importante contra o São Paulo no Morumbi que quebrou tabu, a vitória histórica contra o Santos, a vitória contra o Inter. A série de quatro vitórias seguidas, em 12 partidas perdemos uma só. E ter chegado na final da Copa do Brasil com um time bastante sólido. A cara que o Vasco tem que ter para o ano que vem é a partir do que aconteceu na semifinal e final da Copa do Brasil. Assim que eu espero que a gente consiga retomar a temporada de 2026.
— De uma maneira preliminar já estamos pensando em 2026, mas de forma incipiente. Desde que eu cheguei no Vasco a gente sempre estava muito pressionado. No começo pressionado para sair da zona de rebaixamento e depois pelos jogos decisivos de Copa do Brasil. Também teve a Sul-Americana. Quando tivemos aqueles 12 jogos que fomos bem e aspiramos chegar na Libertadores via Brasileirão, tivemos uma folga que durou pouco. Depois vieram as cinco derrotas seguidas e no final do campeonato a gente estava de novo lutando para se erguer na tabela e não ter chance de cair. Depois vieram esses jogos decisivos. Então não nos aprofundamos muito no tema, mas já conversamos alguma coisa para planejar o ano que vem. Obviamente o maior ganho do time é a manutenção da base e depois repor pontualmente. Daquele jeito que vocês sabem, o Vasco tem dificuldade financeira. Todo mundo sabe. Não vamos contratar o Vitor Roque por 25 milhões de euros, ou Paulinho, do Atlético-MG, que é cria do Vasco. Vamos tentar fazer alguma coisa como fizemos na janela do meio do ano, quando fomos bastante assertivos, para poder pontualmente ajustar o elenco.
- Faltou a figura do jogador para chamar a responsabilidade nesse cenário?
— Não acho que faltou isso. Faltou a gente fazer o gol. O Corinthians teve um goleiro que quando solicitado fez defesas importantes, uma defesa que soube se defender… O time teve um protagonismo importante. O time tentou chute de fora da área, tabela, tentou de tudo. Hoje, infelizmente, não conseguimos ganhar o jogo. Não conseguimos ser melhores que o Corinthians em colocar a bola na rede, que é o mais importante do jogo, mas em todo o resto nós fomos muito bons. Eu faço a analogia da vida. O cara se cuida, faz exercício, você não bebe, não fuma e aí tem um câncer e morre. E tem gente que não se cuida e vive para caramba. Mas a probabilidade do cara que se cuida viver mais é maior. O futebol é isso. O que o Vasco precisa é acreditar no trabalho. Se quem joga está consistente a chance de ganharmos é maior. Um dos aprendizados é saber que campeonato de pontos corridos é que todo jogo é decisivo. Campeonato de mata-mata é óbvio que é, mas em pontos corridos fica o recado que todo jogo é decisivo.
- Eficiência: mais chutes que o adversário, apenas um gol. Algo a se pensar?
— Você pode treinar muito e acontecer a mesma coisa. Deixamos de treinar e as coisas acontecem de um jogo para o outro? 15 ou 20 dias atrás estávamos fazendo cinco gols no Inter e poderíamos fazer mais. Tivemos vários jogos com diferença de três gols, fizemos um monte de gols no campeonato. Simplesmente a bola hoje não entrou. Goleiro foi feliz, aí a bola passa na trave, raspando. Tivemos chances na área do Corinthians em que o chute foi travado. Corinthians soube se defender, mérito deles. Treinar nós treinamos sempre. Vamos treinar cada vez mais, mas isso não garante que vamos fazer poucos gols ou golear como foi contra o Inter, ou então fazer só um gol ou nem marcar como foi quarta-feira.
— O Rayan obviamente faz parte de maneira central (do planejamento). É um dos grandes pilares do meu trabalho aqui. Pouca gente tem um Rayan. É um jogador que decidiu muitos jogos e a tendência é crescimento. Ele está se descobrindo. Se o Rayan fosse meu filho, eu falaria para ficar no Vasco mais um tempo. Se sair no fim do ano que vem vai sair com 20 anos, novo de qualquer jeito. E ia sair com um jeito de jogar mais consolidado, provavelmente com convocação para a seleção. Sai mais forte para o mercado externo, deve ser o europeu. Iria com mais chances de se manter e construir uma carreira bonita por lá. É um jogador muito especial, completo e que repito, está no começo da sua autodescoberta. É um cara que tem todas as qualidades que um jogador que precisa ter, principalmente um atacante. É grande, rápido, técnico, habilidoso, canhoto, muito preciso no chute, está cabeceando cada vez melhor. O que precisa é conseguir ser consistente e gostar do imenso potencial que tem e colocar para fora. Porque é uma joia muito rara.
- Faltou comunicação no primeiro gol do Corinthians?
— Não é que faltou comunicação. Erros acontecem. É difícil falar. O Léo (Jardim), para mim, é um dos postulantes a ir para a Copa do Mundo. Ele está cada vez melhor com os pés, faz milagres, não fica fora de treino… Ele teve que tomar uma decisão em poucos segundos. Ele é o goleiro que mais tem que fazer coberturas dos zagueiros e acertou a maioria durante o ano. O lance era difícil de ajustar. Para a bola chegar no gol nós falhamos coisas que fomos impecáveis em Itaquera. Tomamos duas inversões de corredor e não fizemos o retorno defensivo achando que não iria acontecer. Eles tentaram fazer isso nas costas do Puma antes. Na hora de sair (do gol), é um calculo. É fácil falar vendo da televisão, é difícil na hora do lance.
- Estar numa final depois de tanto tempo: o que muda no clube?
— Acho que nessa construção nova do Vasco, é um aprendizado de começar a decidir títulos importantes e ter grandeza para ser grande como o Vasco é grande. É um time que está aprendendo isso. A gente vai seguir esse caminho, perseverar para que no ano que vem ter consistência e conseguir fazer outras finais. É importante o Vasco todo ano disputar grandes finais, competições importantes e fazer grandes jogos como hoje. Teve gente que hoje pela primeira vez foi titular para 70 mil pessoas decidindo um título tão importante como a Copa do Brasil. Seguindo esse caminho vamos ficar cada vez mais fortes e se aproximar de ganhar títulos grandes.
- Conseguiu identificar a única jogada do Corinthians com Yuri Alberto no início e os jogadores tiveram dificuldade de corrigir, ou não identificou?
— Se a gente não tivesse corrigido, teria tomado um monte de bola, porque é uma jogada do Corinthians de profundidade com o Yuri Alberto. Mas no lance dele tem tanto detalhe… um dia mostro para vocês. Mas são tantos negócios pequenos que erramos para sofrer o gol, achamos que não vai acontecer a acaba acontecendo. A bola estava lá atrás, a bola vem no Matheuzinho, a gente fez uma abordagem sem pressão na bola. Deixamos circular a bola, poderíamos ter voltado mais rápido todos os jogadores para fazer pressão no Matheus para ele não fazer a inversão, poderíamos ter andado para trás mais rápido, o Léo talvez poderia ter saído. Tem um monte de coisas e acabamos tomando o gol. Futebol é um jogo de erro. Mas foram detalhezinhos que aconteceram e levaram a gente a tomar o gol.
— Se não soubéssemos dessa jogada, o Corinthians teria feito um monte de vezes. Ele fez dessa vez, aconteceu e erramos. E no jogo erramos mesmo. Mas era uma coisa que sabíamos e não só hoje. Preparamos também para o outro jogo. Hoje estávamos confortáveis na partida e achamos que não ia acontecer, acabou acontecendo. Essa é uma das coisas quando vamos ver os vídeos que pensamos que poderíamos ter feito melhor. Todos. Não foi um jogador específico que errou, foi um sistema que falhou. Basicamente, em uma situação que não vamos pressionar a bola, tínhamos que estar mais preparados o tempo todo, como foi na Arena do Corinthians. Quando conseguimos fazer a pressão na bola, podemos colocar o time em uma condição mais para frente porque não terá uma bola de inversão. Levamos duas, uma do Raniele e outra do Matheuzinho. Mas era um gol muito evitável.
— Se o Robert Renan fosse muito bem no confronto direto, ele estaria no Barcelona. Ele está aqui justamente para a gente ajudar ele a corrigir. Com a bola ele é muito bom, de um nível top. Isso é uma deficiência que o Robert tem e vai corrigindo. Ele teve oscilações durante o ano. Mas se pegar esses dois jogos contra o Corinthians, foi muito bem. Não perdeu quase confrontos diretos, ainda mais na Arena.
— Eu nem sabia que tinha expulso. Eu fui expulso? Ele (Wilton) estava mais entrevistando os jogadores do que apitando. Ninguém cobra. Eu falei isso para ele e vai estar na súmula porque acho que ele não é mentiroso. Falei que não era programa de entrevista, era para ter de jogo. Toda hora que tinha bola parada ele conversava. Ele picotou o jogo todo, o Corinthians fez cera o jogo todo e ele não deu um amarelo. Não ter jogo para ele é bom porque ele fica com menos chance de errar. Toda bola parada o Corinthians demorava para bater e ele chamava capitão, conversava… Ele conversou muito mais que apitou. Como que vai ajudar? Para ajudar, tem que ter jogo. Independente de estar ganhando ou empatando. Os critérios são totalmente opostos. Se pegar a arbitragem do Claus contra o Fluminense parece que são árbitros de outros países. O gol do Vegetti (contra o Fluminense) provavelmente hoje não aconteceria. Ele não queria jogo.
- Atuação do lado esquerdo do Vasco:
— Não acho que (o problema) é o lado esquerdo. Não podemos achar que o Puma errou uma bola de controle e perdemos o jogo por causa disso. Poderíamos ter feito a falta. Puma bateu o pênalti decisivo que nos deu a classificação. O Saldo do Puma é muito positivo mesmo jogando de lateral-esquerdo. Puma jogou, tem o Piton, o Victor Luis, o Leandrinho… Nós temos jogadores para a posição. Não vou falar de posição. O elenco do Vasco é um elenco que eu gosto. Pontualmente, vamos ver o que precisa.
- Cenário pessimista machuca o torcedor?
— O que machuca o torcedor é mentir. O cenário não é pessimista. O time fez final de Copa do Brasil, teve momentos importantes, está se reconstruindo. Mentir para o torcedor, onerar o clube, fazer dívidas… o Vasco está assim por dívidas do passado. O que fere o torcedor é não ter time competitivo. O time hoje é competitivo. Precisa melhorar dentro da condição. Não é que é um cenário pessimista, é o cenário real. Como que falo que vai contratar jogador por 25, 30 milhões de euros hoje? Se conseguimos segurar o Rayan, temos que dar graças a deus. Porque se vender, não vamos contratar outro. O Rayan hoje deve valer 40 milhões de euros. Como vamos contratar um jogador de 40 milhões de euros?
—Temos que trabalhar muito, tentar acertar pontualmente em contratações como fizemos no meio do ano, participaram Adhemar, Felipe que é uma das pessoas que me ajuda aqui. Felipe é uma das pessoas mais importantes do Vasco e se fala pouco. Foi uma grande janela, muito sacrificante e também demos sorte. Fomos criticados, porque a torcida quer contratação. Mas assim temos mais chance de acertar. Temos menos condições do que o Flamengo, Botafogo ou até o Fluminense que está um pouco mais organizado. O que temos é que trabalhar muito, com pé no chão, e procurar fazer o melhor possível. Tiramos essa diferença de quase ter um título importante no trabalho dentro e fora do campo. Terminamos a temporada sem ninguém no DM tirando as lesões traumáticas, de cirurgia. Mateus Carvalho, Jair, Piton que não é cirúrgico mas teve entorse importante no joelho e Adson que teve fratura. Fora eles todos estavam em condições. É um departamento de fisiologia que funciona muito. A parte de gestão, logística, viagens funcionam bem. E o Pedrinho vocês já sabem. É o que mais trabalha e mais se expõe para ajudar o Vasco. Mas não tem milagre. Alguém tem suspeita que é honesto? Que ama o Vasco? É um cara que disponibiliza seus bens pessoais para ser presidente do Vasco. Todos da diretoria são apaixonados e não ganham dinheiro com o Vasco. Tiram o tempo deles e estão ajudando. Tenho a maior alegria de fazer parte disso. O Vasco não tem mais dinheiro, mas é um lugar que tem profundidade, boa vontade, honestidade e acredito nesse trabalho. Obviamente que se tiver mais recursos financeiros, ajuda todo mundo. Porque o futebol é feito de grana, todo mundo sabe disso.
- Aprendizado para 2026 é ser mais equilibrado?
— É um desafio para nós. Esses jogos de maior mobilização, que você sabe que não tem margem… o Vasco também quando teve no Brasileiro momentos de ou ganha ou vai ter problemas, como foi contra o Inter, quando estávamos lá em baixo e começou a série de vitórias jogando contra Bahia, Cruzeiro… o time soube fazer. Não temos que ficar sob pressão para jogar bem. O Campeonato Brasileiro de pontos corridos, toda partida é uma final. É assim que funciona. É um time que acho que está aprendendo. O Vasco já vem de um tempo fazendo campanhas que ficam meio que flertando sempre com a parte de baixo da tabela. Isso é algo que precisamos trabalhar para flertar e ficar na parte de cima. Esse é o aprendizado. Nas copas tivemos um nível de concentração e atuação, se compararmos com o Brasileiro, bem melhor.
— A gente tem uma base. Vamos conversar nos próximos dias de maneira detalhada, mas já temos uma base de planejamento de como vai ser janeiro, que será o mais crucial nesse início.
Fonte: ge